Um café com Daniela: Insights sobre Moda para reflectir

Um café com Daniela: Insights sobre Moda para reflectir
Colagem feita pela autora. Projecto “Tiffany & Co Shooting Stars” da autoria de Daniela Stancheva

O título denunciou-me! Este é um artigo da série sobre a comunidade do The Fashion Standup.

Esta semana ficamos a conhecer Daniela Stancheva - licenciada em Branding e Identidade Gráfica pela Central Saint Martins. A Daniela, apesar de não me conhecer, acreditou naquilo que ainda era apenas uma ideia vaga da plataforma digital que agora lêem. 

Ao dar-me ideias e, um incentivo criativo sem precedentes, fez-me voltar a acreditar que a internet não perderá jamais  o seu propósito primordial de criar relações valiosas entre as pessoas.

Claro, que não sabendo muito de branding e de identidade ou design gráfico, toda a curiosidade se adensou para este café digital…

Confesso que não esperava partilhar tantas perspectivas e, acima de tudo, aprender tanto! 

Colagem feita pela autora.Daniela Stancheva. Portfólio do projecto “Tiffany & Co Shooting Stars”. 

A rapariga de sorriso fácil e olhar brilhante que encontrei do outro lado do ecrã contou-me a sua estória digna de uma série de streaming. Começara a estudar Direito no seu país natal - a Bulgária. Apercebendo-se que não era o que a faria feliz, decidiu ter a coragem de mudar. Pesquisou no Google quase as melhores escolas de design do mundo e as borboletas na barriga levaram-na a candidatar à escola mais famosa da UAL e não só… 

Ao longo da nossa conversa, as minhas perguntas levaram a respostas tão pertinentes e bem drapeadas que me não só me permitiram  reflectir, mas também fruir do nosso encontro criativo.

E como sharing is caring, estes são os 12 pontos de reflexão, um café para tomar com calma, seja com açúcar, com adoçante ou nenhum dos dois.

Colagem feita pela autora. @noks.clothing@byfar_official

1 - Sobre a Moda búlgara

A Bulgária não é uma Capital da Moda, sabes. Não é uma grande cena quando se trata de moda. 
No entanto, conheço alguns exemplos realmente interessantes de pessoas que decidiram criar as próprias marcas de Moda aqui. E o trabalho que desenvolvem espelha o seu empenho, reflexão e intencionalidade. 
Mesmo que o mercado não sejaenorme, pelo que não é realmente, sabes, rentável depender apenas disto. Mas (…) é a realidade da moda. É  (…) difícil depender do teu trabalho na Moda,  como sendo a tua única fonte de rendimento e (…). (Seria) ótimo, mas não é a realidade.
A coisa mais interessante para mim, enquanto designer gráfica, é como abordam as redes sociais e como estão a tentar promover-se, e como estão a atrair pessoas, especialmente na Bulgária, onde estão habituadas a (…) comprar nas lojas que já conhecem. 
É  (…) esta liberdade. É como quebrar as regras de tudo o que poderias esperar de uma marca de moda. 
Como, por exemplo, misturar  outros elementos de outras áreas como cultura e comida, (…) criando todo  este storytelling , com fotografias, ou misturando conteúdo de diferentes meios, pegando em pequenas referências de outros aspetos, não roupa, não necessariamente roupa, e utilizar  tudo isto em conteúdo que é inesperado e diferente. 
Experimentar, experimentar muito e quebrar as regras do que normalmente esperarias de uma marca de moda. 

2 - Sobre branding e marketing

Bem, branding é literalmente o que torna a tua marca  verdadeiramente tua. São os sinais, os padrões repetitivos que mostras às pessoas a consistência. É por isso que voltam e procuram a marca ou o teu produto vezes e vezes sem conta, e é como uma promessa que fazes aos teus clientes… Que vais aparecer, e que vais entregar a qualidade que lhes estás a prometer. 
Já o marketing é um pouco mais criativo, é mais fluido.
Portanto, o branding não muda, é o que se mantém consistente e precisas desta consistência no teu produto e nos teus designs, para cumprires esta promessa que dás aos teus clientes. Um, e seja o que for que eles gostem em ti, eles continuam a voltar por causa disto. Marketing (...) não é o que te mantém a longo prazo.

3 - Sobre o processo de design

Quando estamos a criar uma marca, o método que nos foi ensinado na UAL. Usamos este método de diamante duplo.
E o primeiro diamante é toda a base da marca. Não tem nada a ver com referências  visuais.
Se um projecto durar 6 semanas, as primeiras 3 semanas não estamos a desenhar nada. Não estamos direccionados a algo visual. Não estamos a fazer nada relacionado com design (em termos de criação em si).
Estamos só a fazer pesquisa. Estamos a definir o tom de voz da nossa marca. Um público-alvo, todo o sentimento, e toda a vibração da marca, e isso é como metade de todo o projeto. 
E depois, quando tens tudo isto definido, os visuals são apenas como tudo isto se traduz em gráficos. Então é muito mais do que apenas um tipo de letra ou uma cor ou qualquer outra coisa. 
Está enraizado em muito mais intenção e reflexão, é a ideia. É a marca,  é uma ideia que reúne pessoas num grupo que partilham a mesma visão. E depois os visuais são apenas uma tradução disso.

4 -Sobre o Pinterest

Estares em frente ao computar e fazer qualquer coisa, a só usar Pinterest como referência. (...) Sabes, não é algo que te exija muita atenção. 
No entanto, quando se trata de, sabes, trabalho realmente sério e de qualidade. Metade do processo. Pesquisa e definição e inspiração, e tudo o resto. Portanto, sim, a base da marca é extremamente importante. É o ponto de partida para  trabalhar a parte visual. Se quiseres realmente criar um trabalho de qualidade em termos de design gráfico.

Página “Team” do website da marca Noks. Look da colecção Outono| Inverno 2024-2025 da marca Knapp

5- Sobre a sustentabilidade financeira dos designers independentes

Todos os anos vemos finalistas de design de Moda super talentosos. Sabes,  em todo o lado (em todos os meios). São fantásticos! Trabalham as redes sociais, e é um trabalho incrível, incrível com tanta reflexão.
Mas como? Como é que manténs uma marca de sucesso que está a operar e a fazer dinheiro e a gerar fluxo de caixa? Para que possas continuar a fazer o que estás a fazer. E tens realmente paixão por esse trabalho.

6 - Sobre o génio criativo de muitos designers de Moda

Quando és tão genial, queres focar-te no teu craft,  não queres realmente ir para as redes sociais, porque é um trabalho a tempo inteiro. 
Conseguir acompanhar o algoritmo das redes sociais é um trabalho a tempo inteiro, consome a tua energia e mantém-te afastado do motivo pelo qual realmente começaste toda a coisa, tudo isto da Moda.
Mas é absolutamente necessário, como é que realmente vendes o que queres, o que criaste? Um, portanto, sim, muito importante.

Colagem feita pela autora. Feed do Instagram de @stylenotcom. Feed do Instagram de @ideservecouture.

7 - Sobre a criação de conteúdo de moda


Style Not Com e @ideservecouture (…) começaram como uma paixão. (...) este puro desejo de estar conectado com pessoas com a mesma mentalidade, que também partilham este interesse pela moda, o quer partilhar a tua opinião, e acreditas que tens algo mais, algo diferente para acrescentar.

8 - Sobre ser pago como criativo

Em termos de trabalho criativo, como as fronteiras são tão esbatidas quando se trata de trabalho, porque não é realmente um standart o que contas como trabalho, e o que deveria ser contado como trabalho pago. 
Mas continua a ser trabalho. É trabalho criativo, mas continua a ser trabalho. Leva tempo. Envolve o teu conhecimento.  Envolve a tua perspetiva única como criativa, o que significa que é trabalho que ainda precisa de ser pago. Portanto, sim, é realmente difícil, mas continua a fazer o que estás a fazer. 
O que eu realmente gosto do teu trabalho é a pesquisa, esta foi a mensagem que me enviaste no início, e foi que que prometeste conteúdo profundo. Algo que vá além do, sabes, do scrolling regular, e tipo, uau! 
A Moda está cheia de momentos virais. Todos nós já vimos isso, o meu feed está inundado com este tipo de conteúdo, mas quando se trata de algo que é mais pensado e bem pesquisado, e por isso é ótimo. Eu acho que tens algo diferente para propor.

Colagem feita pela autora. Experiência de Realidade Virtual (esquerda) e Processo (direita) do Projecto “Tiffany & Co Shooting Stars”

9 - Sobre a ousadia

Decidi fazer uma experiência de realidade virtual (durante a licenciatura). Foi para a Tiffany. E eu realmente convidei a Tiffany para vir à  exposição, só  para ver se tinha o  “sim”, ninguém respondeu. Claro que não responderam.Mas eu fui corajosa o suficiente para o fazer. 
Criei uma experiência de realidade virtual onde era esta espécie de noite estrelada. Onde cada estrela é um diamante Tiffany. E toda a ideia era que tinhas como papel, dobrados em forma de avião. 
E podias atirá-los e tentar alcançar os diamantes que são as estrelas - a noite estrelada. 
E é como uma promessa que fazes a ti mesma   "Estou a ler isto, a escrever este sonho que tenho, a dobrá-lo num avião de papel, e estou a atirá-lo. Então sempre que realizar um sonho, vou presentear-me com um diamante Tiffany." Esse era conceito.

10 - Sobre a apresentação do teu trabalho

Lembro-me que houve um conselho que nos deram na UAL, e foi enquanto estávamos a preparar-nos para nos licenciar e ir a entrevistas, entrevistas reais para um emprego, e os nossos tutores deram-nos este conselho - leva sempre algo impresso contigo.
Algo que seja tangível, e algo que a outra pessoa possa tocar e ver. Porque sempre diz muito mais sobre o teu trabalho do que apenas mostrar, sabes, mockups digitais. Não é o mesmo. 
Ah, então, sim, quero dizer enviar algo impresso como ter algo em papel, tem um certo romance. Portanto, definitivamente poderia ser usado a teu favor, sabes, para qualquer ideia escrita que tenhas. Se quiseres que alguém se certifique de que vai lê-la. Se estiver nos emails pode ficar lá. Pode ficar por abrir. Mas se estiver impresso é outra coisa.

11 - Sobre o contexto social e histórico

Sim, fomos influenciados pelo Comunismo. Mas, de certa forma, brincamos com isso. E sim, estamos tão longe de onde precisamos de estar. Mas, de certa forma, algo que é usado como  sarcasmo e humor e, é incorporado nas artes e ofícios e até na Moda. 

12 - Sobre o consumismo

Tomei a decisão de que não vou incluir outra peça de roupa no meu guarda-roupa que não adore com todo o meu coração, e que seja absolutamente “eu”. 
Então agora tenho uma mala. E é uma mala de designer. É, quero dizer, é uma mala de “luxo acessível”. Não é como uma mala de “designer designer”. Está sempre comigo, e adoro-a tanto, e não tenho vergonha de estar com a mesma mala vezes e vezes sem conta.

Do que gostarias que tivéssemos falado? De que tema gostavas ter tido a perspectiva da Daniela? Que membro da comunidade do TFS gostavas de conhecer - de alguma área específica? Tens uma ideia que gostavas de ver desenvolvida por mim?

Tomamos outro café para a semana? Fico à tua espera!

Depois de tanto sobre o que reflectir, respira , descansa - aproveita o teu fim-de-semana!

Até breve!

Com amor,

Vera Lúcia