ModaLisboa Base: Legado, Liberdade e Tradição
Lisboa Fashion Week: Dia 3 + Visita à alfaiataria Rosa & Teixeira

Sejam bem-vindos e bem-vindas ao terceiro dia da mais recente edição da Lisboa Fashion Week-a ModaLisboa. Ou seja, voltemos, no nosso report, à Fashion House.
De facto, só estive nesta location um dia, mas uma vez que já te falei da Pop-up Store dentro da Fashion House, acaba por ser um regresso.
Mas não ficaremos por aqui, avançaremos um pouco mais na nossa timeline, há um momento muito específico e especial do dia 4, sexta-feira… A visita à mais tradicional alfaiataria portuguesa-a Rosa & Teixeira.
Para já vamos descoser os detalhes das apresentações das designers Roselyn Silva e Ana Margarida Feijão.
Há que destacar, considerando o contexto internacional vivido na indústria da Moda, que nesta edição da Lisboa Fashion Week dos 50 designers que apresentaram as suas coleções e propostas, 31 são mulheres.

Roselyn Silva - Legado
Roselyn Silva apresenta-se na Fashion House da ModaLisboa Base com “Legacy II” uma celebração de uma década da marca homónima.
Após de sete anos a trabalhar numa empresa ligada à Engenharia e Construção Civil na área de Design e de Projecto, Roselyn segue o seu sonho, dedicando-se à Moda.
Tem formação em Design de Moda na LSD-Lisbon School of Design e cria a marca Roselyn Silva. Dez anos volvidos integra a programação da Fashion House da ModaLisboa Base.

Em termos de apresentação, o desfile permitiu uma proximidade física para melhor vislumbrar os detalhes, com paragens em pose das modelos a remeterem para a estrutura de desfile vigente até à década de 90 do século XX.
Pessoalmente, atraiu-me a utilização de veludo azul, mas que fora um pouco abafado pelos tons de marsala…
Tendo Roselyn, designer que nasceu em São Tomé e Príncipe e cresceu em Portugal, projectado esta relação:
“Enraizada nas origens, mas sempre em busca de novos caminhos, LEGACY II traduz a ousadia de inovar sem perder identidade. É um tributo ao crescimento, à renovação e à resiliência, evocando o próprio processo de construção da marca.”

Ana Margarida Feijão - Liberdade
Geograficamente o percurso de Ana Margarida Feijão, após a mudança do Algarve, de onde é natural, para Lisboa, foi o seguinte: Lisboa — Milão — Londres — Nova Iorque.
O que se traduz num percurso profissional e formativo muito amplo.
Em Lisboa, Ana Margarida fez a licenciatura em Design de Moda na FAUL-Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, durante a qual fez um intercâmbio especializado em knitwear no Politécnico di Milano.
A que se seguiu uma pós-graduação em Londres, na Central Saint Martins e um mestrado em Nova Iorque-na Parsons School of Design.
Entretanto, foi voluntária nas Semanas de Moda de Lisboa, Londres e Nova Iorque. E, é à Base, a Lisboa, à ModaLisboa-Lisboa Fashion Week que regressa agora, com “Liberdade é nome de mulher”-a continuação da coleção de final de curso que apresentara em 2004, na New York Fashion Week.

Em “Liberdade é nome de mulher” o ponto de partida da inspiração foi a série documental, da RTP, da autoria de Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa-“Nome de Mulher”.
É corpo de memória inspirado nas silhuetas dos trajes tradicionais portugueses e, quanto a mim, demonstra a liberdade própria criadora.
Liberdade em que medida? Livre para olhar e ver as heranças patriarcais que ainda existem no nosso país. Livre para criar, sabendo fazer com originalidade, com volumes, técnicas diversas e materiais vários.
Numa apresentação em formato de exposição que traz liberdade ao acesso, a entrada e saída de pessoas, permite que mais “visitantes” apreciem a arte de Margarida.
Assim como nos dá liberdade de interagir silenciosamente com as mulheres, uma experiência que na sociedade actual vivenciamos pouco, focarmos plenamente na beleza visual, da aparência e na criação do ser humano.
Importa referir que ao seu trabalho como designer de Moda em nome próprio acrescem ainda as experiências anteriores, como estagiária na área do Design de Moda enquanto estudava, como assistente de investigação e, actualmente, como professora de modelagem e ilustração”.

Rosa & Teixeira - Tradição
A visita aos ateliers da alfaiataria Rosa & Teixeira sob o signo “Da Tradição ao Estilo: Como se faz um fato” — Uma iniciativa que se inscreve na programação de ModaLisboa na Avenida.
ModaLisboa na Avenida nasce da parceria da Associação ModaLisboa com a Associação da Avenida da Liberdade, promovendo várias marcas e iniciativas.
E ainda que nos focaremos mais na referida iniciativa, quero rever contigo o que teve lugar nesta programação. Uma vez que esta materializa a multidisciplinaridade e capacidade de diálogo da própria Moda e de personificação da missão da Associação ModaLisboa.
Dialogou-se assim com a hotelaria, a criatividade, a joalharia em encontro com a escultura e não só, a óptica com design de autor, o cinema, a beleza para lá do backstage, a diversão noturna e a alfaiataria.
Durante três dias a ModaLisboa foi inspiração para um menu e para um cocktail, no Locke Santa Joana e Tivoli Avenida Liberdade.
Do Tivoli Avenida Liberdade para o Valverde Lisboa Hotel & Garden. Onde teve lugar a conversa de Nuno Baltazar com Sara Andrade intitulada “Criatividade é Território”.
A joalharia esteve presente em vários âmbitos e dimensões. Na flagship store Lisboa-a Stivali, numa ação conjunta com o criador Valentim Quaresma, onde Moda se une à joalharia contemporânea.
Maria João Bahia apresenta a sua nova coleção de joias “Coleção Cleópatra-A Força da Beleza Natural”.
Já a Escapim 1985 abriu as suas portas para três workshops: “História na Joalharia: Joias Antigas e Vintage”; “Rubi: o Rei das Pedras Preciosas” e “Peritagem de Joias: Avaliar, Classificar, e Autenticar”.
Com o evento Base Matter, a André Optica despediu-se da sua actual morada da Avenida da Liberdade e apresentou as novas interpretações do modelo Abbondanza.
Sessões de cinema ao livre de filmes intrinsecamente ligados à Moda - como “Breakfast at Tiffany’s” e “O Diabo veste Prada” - tiveram lugar no rooftop do Teatro Capitólio no Parque Mayer.
Na Maison Sisley Lisboa tiveram lugar as sessões Flash Beauty personalizadas e individualizadas.
O restaurante e bar Mona Verde foi anfitrião para o cocktail ModaLisboa como Happy Hours, Sunset Experiences & Fashion Night.

E agora, sim, vamos falar de alfaiataria…
Esta iniciativa permitiu, ainda que num ambiente intimista, mostrar a arte da alfaiataria a um público diferente daquele que é o seu público-alvo em termos do consumo propriamente dito e da venda.
Por vezes, é difícil colocar em palavras a emoção sentida ao assistir a um saber-fazer de mestria.
Os processos em Moda foi algo que sempre adorei observar, mas é algo paradoxal… Se algo tem uma beleza tamanha, porque não é facilmente traduzido para a palavra escrita?
Não obstante, enquanto via o senhor José Luís-o mestre alfaiate-a riscar os componentes do casaco de fato sem qualquer molde e as hábeis costureiras D. Filomena e D. Conceição a coserem à mão os bolsos dos casacos-tanto os vivos ou a fecharem os ditos bolsos, havia algo em que não conseguia deixar de pensar…
Teriam escolhido?
Pela idade do aprendiz de alfaiate, da costureira que sentada entre as duas costureiras mais experientes e da modelista responsável pelo pequeno, mas muito completo atelier de camisaria sabia que tinham tido escolha. Afinal tinham tido liberdade de escolha em como ocupar os seus futuros.
O Sr. Zé Luís começou a aprender o ofício da alfaiataria aos 11 anos com o tio, o gostar daquilo que faz veio depois.
O mesmo aconteceu com a D. Conceição que por volta dos 14 anos já era aprendiz de costureira.
Portanto, sim, a liberdade em Portugal é recente e frágil e, actualmente, escolher aquilo que fazemos profissionalmente com base naquilo que gostamos, não é onírico, mas sim, activo exercício de Liberdade.
Podia falar-te das crinas de cavalo aplicadas nos casacos, das horas que demora a criar uma peça de alfaiataria de ponta a ponta, mas quis falar-te de escolha.
Escolha de fazermos a nossa parte para mantermos vivos os saberes que estão aqui, ao lado da nossa Moda e que também a mantêm de pé.
Porque voltar à Base é relembrar porque fazemos Moda, porque é perfeitamente imperfeita, mas amamo-la e por isso dedicamos-lhe a nossa vida…
Talvez seja um acto de fé ou terei uma overdose do novo disco da Rosalía?
Calculo que te estejas a questionar sobre que tópico separará os relatos TFS do dia 3 e o dia 4 da ModaLisboa Base.
Pois bem, para a semana será publicado o primeiro gift guide com assinatura do The Fashion Standup-no qual todas as sugestões serão criações de designers de Moda portugueses independentes.
Até lá!
Até para a semana!
Com amor,
Vera Lúcia


