Do México com propósito: Talía Cu, Fashion Substacker e guardiã da Moda local

Antes de terminar 2025, trago-vos uma colaboração que há muito esperava publicar - o ensaio sobre Talía Cu. Pode parecer que esta é mais uma colaboração, como os outros cafés virtuais que figuram no arquivo do The Fashion Standup. Provavelmente, a Talía foi a primeira pessoa com quem estabeleci algum tipo de contacto quando comecei a usar o Substack (se bem me lembro comentei uma note sua).
A chamada Zoom que nos reuniu tem meses, mas faz todo o sentido que o ensaio em que falo sobre aquela a pessoa com quem mais me identifico no universo do Substack veja a luz do dia cinco dias após o meu sticker “Fashion Substacker” ter, finalmente chegado ao México, que é como quem diz a casa da Talía.
Para lá da gravação e transcrição da nossa video-chamada, este texto parte também da leitura de “Diary of a Latin American Fashion Communicator” e da minha participação na sua masterclass “Local Fashion Documentation”.
Desta feita, escrevo-vos pensando numa leitura leve, entre colheradas quentes de arroz doce ou arroz con leche… Afinal, este ensaio está ser escrito e vai ser publicado naquele limbo de dias entre o Natal e o Ano Novo.

Quinze anos entre agulhas e teclados
Talía começa por contar-me que o seu percurso na Moda, especialmente no cluster Latino Americana, começou aos 19, portanto conta com mais de 15 anos de experiência.
Durante o seu percurso teve um blog, teve uma revista, trabalhou na Vogue México e Latino América… Dentro da área dos media de Moda teve um negócio próprio, teve sócios. E percebeu que para si a escolha certa para si seria o empreendedorismo a solo.
Falamos sobre a experiência de cada uma de nós em como escolher o que é intuitivamente certo para cada percurso criativo não é, inerentemente, a escolha mais fácil.

Trabalhar em Moda é muito, muito difícil
Na Vogue, trabalhou tanto como parte da equipa como em freelance. Fazendo parte da equipa do digital, num momento em que os media tradicionais abraçavam um então novo formato híbrido. Numa equipa pequena também a sua editora de então já tinha a visão da promoção da Moda e dos designers latino-americanos.
Ainda assim, actualmente, uma Vogue Mexico e Latino America abarca uma vasta região pelo que se espera que possa vir a existir uma Vogue por país.
Sabendo que Talía trabalhara na Vogue, quis falar sobre como é trabalhar em Moda. A que conclusão chegámos?
Bem, que trabalhar em Moda é muito muito difícil, mas que seguimos, porque aqui vimos propósito e missão.
E, que tal nível de dificuldade e exigência começa na licenciatura em Design de Moda, que é uma escola. Uma experiência que te molda e te prepara, quer tenha sido tu a trespassar o dedo com uma agulha, como aconteceu comigo ou tenhas presenciado o mesmo acontecer a uma colega, como foi o caso da Talía.

Sistemas de Moda: México e Lisboa em contraste
Aperceber-me dos demais Sistemas de Moda ficou-me como predefinição após a tese. Pelo que obviamente quis falar de Semanas de Moda. Descobri que a Semana de Moda da Cidade do México, quando comparada com a Lisboa Fashion Week, funciona como um negócio privado.
No México, a maior parte das despesas inerentes à realização de um desfile fica a cargo dos próprios designers, quer sejam consagrados ou emergentes. Havendo ainda assim alguns pequenos eventos independentes e patrocínios a marcas ou designers em eventos promocionais.
Não havendo à vista uma associação sem fins lucrativos homóloga à Associação ModaLisboa, quando partilhamos as realidades que conhecemos dos nossos clusters de Moda independente a dimensão do choque aproximou-se do Big Bang.
Por falar em Academia, considera que faz parte da sua metodologia e forma de ser que quando se interessa por algo, pesquise e procure aprender o máximo possível sobre dita questão e por conseguinte partilhar o conhecimento acumulado, quer seja online ou presencialmente na universidade. Talía partilhou também a sua percepção de que o Substack não é uma plataforma cujo mecanismo se perceba de forma célere. Assim que após perceber o seu funcionamento, partilhá-lo com os demais foi uma passo natural.

Uma casa na internet que procurávamos há tanto
Como faço sempre que converso com outros criativos de Moda que estejam no Substack, pergunto-lhes o que acham da plataforma e qual é sua história por aqui. A nossa protagonista desta semana já está no Substack há mais de 4 anos. Entende esta plataforma como o lar na internet que muitos de nós, há já muito procurávamos. Palavras que subscrevo, tanto literal como figurativamente.
Assim como ambas partilhamos a esperança que esta plataforma se expanda para lá da prevalência nos EUA.
Sobre o seu Latin Zine diz-me:
“Tenho mantido o meu Substack, sempre, de algum modo como o centro da minha criatividade, sabes? Como se fosse a semente. É o lugar onde posso expressar a mim mesma, onde posso partilhar coisas do meu ponto de vista e posso ser criativa. E se não o faço, sinto-me um pouco perdida. Eu própria preciso desse espaço. Preciso de o fazer para poder fazer outras coisas.”
Pergunto-me e, consequentemente, pergunto-lhe como organiza o seu tempo, uma vez que quem vê de fora, a Latin Zine é um projecto tão maduro e estruturado. Conta-me que não tem dia fixo para publicar a sua newsletter, a regra é publicar uma edição semanal, ainda que já tenha publicado, durante algum tempo, dois artigos por semana.
O facto de dar aulas presenciais dois dias por semana, ajudam a guiar agenda com dois pilares em torno dos quais os restantes afazeres se vão movendo - quer sejam tarefas e compromissos relacionados com o seu Substack, o ensino ou projectos colaborativos ou de freelance.
Umas das coisas mais valiosas que aprendi com Talía na nossa primeira conversa, foi o saber que Elsa aprendeu a por-se a si própria como pessoa antes do trabalho. Tendo consciência que agora na casa dos 30 tem muito mais capacidade de equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho do que tinha na casa dos 20.
Portanto, há esperança para mim…
Obviamente, que não te vou contar o que consta deste ebook, uma vez que o podes comprar aqui.
Ainda assim, há três coisas que, após a leitura, que quero destacar e que posso destacar sem fazer spoilers.
A minha homologa mexicana tem uma capacidade de resiliência e de experimentação com aquilo que a sagacidade acidental da vida tem para oferecer absolutamente admiráveis. Sem se apegar a planos pré-definidos, ou idílicos que muitas vezes podemos fazer para nós mesmos.
Na verdade, não somos totalmente homólogas- a fundadora da Latin Zine é designer e jornalista de Moda, já eu sou designer de Moda de uma ponta à outra e, esse é o segundo ponto. O ponto é o meu entendimento do quanto Talía se dedicou ao jornalismo de Moda, em termos de formação, com uma pós-graduação em Jornalismo de Moda em Londres e um mestrado sobre Novos Media e Cultura Digital em Amesterdão.

Duas Modas Latinas, uma missão
E, como o mais importante fica para o fim - com a leitura de “Diary of a Latin American Fashion Communicator”, percebi melhor a minha missão e do The Fashion Standup, percebendo a de Talía e de Latin Zine. Sendo que, de facto, as nossas missões são homólogas: a documentação e promoção da Moda local.
Bom Ano Novo, cheio de amor e de Moda independente… Quer seja Portuguesa ou Latino-americana que, no fundo são ambas Modas Latinas.
Até para a semana!
Com amor,
Vera Lúcia


