Da Trugia e ao Flow - ModaLisboa Base (Dia 5)

Sábado, 4 dias para o Natal (sim, eu conto os dias para a Véspera de Natal e não para o dia ok?)…
E, eu já sei que disse que os ensaios voltariam a ser ao Domingo, mas amanhã tenho um bonito jantar de Natal, assim primeiro sirvo-te um bonito ensaio para depois entrar em modo Natal.
Por esta altura desejo que já tenhas feito as compras todas e estejas a postos para entrar na máquina do tempo do TFS. Próxima paragem: quinto dia da edição Base da ModaLisboa | Lisboa Fashion Week.
Que designers apresentaram as suas propostas no passado dia 4 de Outubro? Do programa faziam parte os seguintes designers e marcas: Gabriel Silva Barros; Mestre Studio; Luís Onofre; Béhen; Olga Noronha; Gonçalo Peixoto; Kolovrat e Carlos Gil.
Para contextualizar importa dizer que sou convidada da Associação ModaLisboa, organizadora conjuntamente com a Camara Municipal de Lisboa. Agora sim, dividamos este diverso grupo em três: os designers a cujos desfiles assisti; os designers que planearam os seus desfiles off location e, por conseguinte os seus desfiles eram exclusivos a convidados do próprio criador; os desfiles a que podia ter assistido, mas não o consegui fazer.
Os desfiles da marca Béhen e do designer Nuno Baltazar (dia 6) tiveram lugar no terraço MUDE - Museu do Design, uma location com espaço muito mais limitado do que a sala de desfiles no Pátio da Galé. Também Olga Noronha fez a sua apresentação no Museu do Design, dentro do próprio edifício. Não obstante, o facto de ter podido assistir à apresentação de Olga Noronha e ao desfile de Luís Onofre, não consegui estar presente.
Pelo que hoje vamos falar de um outro desfile Workstation, depois de há umas semanas termos falado das designers Francisca Nabinho e Bárbara Atanásio, chega a vez de Gabriel Silva Barros e Mestre Studio. A que se seguirão os mais experientes - Gonçalo Peixoto, Kolovrat e Carlos Gil.
Como é habitual, o final das introduções tem sempre um esclarecimento adicional. Da mesma forma que clarifiquei que o artigo sobre o BoF Voices da semana passada se tratava de uma escolha editorial, neste contexto também não há nenhuma colaboração formal entre a Associação ModaLisboa e The Fashion Standup.
Reforçando a ideia de que o TFS é uma publicação independente, assente no modelo de Substack - ou seja, o lucro do projecto advém única e exclusivamente pela tua subscrição premium ou founding processada por esta plataforma.
Não obstante, a cobertura da Semana de Moda de Lisboa faz parte da missão basilar deste projecto. Foi estudando a ModaLisboa que nasceu o The Fashion Standup. Não esquecendo que a nível pessoal, para mim a ModaLisboa será sempre sinónimo de casa e familia.

Workstation - Gabriel Silva Barros & Mestre Studio - convergências paralelas
Antes de falarmos de cada uma das coleção destes dois designers emergentes - Gabriel e Diogo (Mestre), devo partilhar que para este desfile fui duplamente convidada. Como já havia mencionado, pela ModaLisboa, mas também por Gabriel Silva Barros, para o email TFS - acontecimento que muito me lisonjeou.
E se citámos as memórias descritivas do talento português, para colocar a voz dos designers no centro da discussão. Não faria sentido não dar continuidade a tal prática… Assim, é-nos dito (via website ModaLisboa) o seguinte:
“Perlimpimpim define a linguagem de design de Gabriel Silva Barros. Perlimpimpim é um mundo de constante fluidez entre a realidade e fantasia.”
Já no que ao universo da marca Mestre Studio é afirmado o seguinte (via website ModaLisboa):
“Trugia - Regionalismo / Alentejo, Algarve
“conjunto de objetos sem préstimo ou valor; tralha”
(…)
A boneca com que brincámos todos os dias, a mala com os cantos gastos, a pilha de roupa velha e a caixa onde repousam, cobertos de pó, objetos, fragmentos da nossa história que já não têm utilidade, mas que guardamos. Todos estes elementos formam a paisagem silenciosa que inspira a coleção.”
Em Workstation Design temos presenciado em cada desfile, designers que visualmente podem parecer antagónicos, mas que se olharmos e virmos devidamente, encontramos os pontos de convergência.
Se no encontro em passarele de Francisca Fabinho e Bárbara Atanásio, o que as unia era o conceito, neste caso - trata-se da continuidade da linha conceptual. Gabriel trabalha a descontração do estereotipo masculino, pegando em referências históricas e piscando o olho ao surrealismo. Já Diogo trabalha a memória - a sua e do colectivo, olha para o Alentejo e para os regionalismos, sem pré-concepções, sem ideias, criando as suas próprias ideias.

Gonçalo Peixoto - Designer Empresário ou Empresário Designer?
“Gonçalo Peixoto traz, assim, a vitalidade, a frescura e a sofisticação para uma estação que celebra a Mulher em toda a sua força e leveza.”
(Via website ModaLisboa)
Em Gonçalo Peixoto, o designer que já afirmou ser melhor empresário do que designer, apresentou uma coleção dentro do estilo que já nos havia habituado. E ainda que, não sejam especificamente tangível tais similitudes. O estilo de Gonçalo Peixoto e 2B aproximam-se. Uma vez, que a fundadora da marca 2B e cantora Bárbara Bandeira tem sido uma embaixadora não oficial da marca do designer.
Nesta coleção, há algo que, na minha perspectiva, é novo na marca Gonçalo Peixoto, face às restantes - os casacos statement que trazem ao seu léxico novas silhuetas, contrastes de forma e texturas muito interessantes.
Em termos de marca, neste desfile o designer deixa sobressair a sua veia empreendedora e empresarial.
A sua coleção sempre teve peças que seriam, normalmente, usadas mais em ocasiões especiais do que quotidiano. Assim, ainda que a coleção ainda esteja disponível para compra e apesar de se tratar de uma coleção para a Primavera/Verão - as propostas apresentadas a menos de dois meses do Natal e a Passagem de Ano abrem o apetite pela marca… Podendo a escolha para determinadas eventos da quadra recair sobre uma peça ou um look total assinado pelo designer sediado no Porto.
Já o núcleo de looks em branco, poderá facilmente vir enquadrar-se na recente linha Bridal. E podendo a restantes propostas servirem de complementares a este universo - vestindo as convidadas. Afinal esta é uma coleção para aquela que costuma ser a estação quente, e que é também a época alta dos casamentos.
Esta veia empreendedora de Gonçalo, verá ainda maior expressão no novo ano, aquando da masterclass que leccionará a 17 de Janeiro com uma admissão de 350€ por pessoa.

Kolovrat - da árvore às pedras
“Kolovrat está sempre a jogar. Do peso e da forma óbvios de uma rocha ao conceito de presença, atravessa grandes silhuetas e desliza até à fluidez da mente. “
(Via website ModaLisboa)
Kolovrat desafia-nos sempre, não de forma consciente, e não em termos de mente sequer, é a emoção. É a emoção que baila e vagueia por entre as silhuetas volumosas, mas que não pesam - são pura leveza. Ainda que esta coleção fale de pedras - “Stone Age”. As pedras por entre as quais caminhamos ao longo da vida.
Por entre os estampados alusivos às pedras e os fardos de palha enrolados, tão característico da paisagem do nosso país - mais uma vez para os descobrirmos, não basta olhar, temos de ver, descobre-se uma mensagem… Uma mensagem, literal no sentido de estar escrita, na testa de algumas manequins pode ler-se “I am here”.
Será que podemos interpretar este detalhe como um alerta, que nesta “Stone Age”estamos tão preocupados com as milestones que nos esquecemos de onde estamos no momento presente?
As pedras vêm no seguimento da coleção “I am the three” - para dita coleção, a própria Lidija mostra-se no Instagram a pintar à mão o estampado de um casaco. Se dita técnica tão cuidada foi também utilizada, é possível. Não sendo certo como afirmação, uma vez que não foi divulgada nenhuma informação tão especifica desta feita.
Algo é, sem dúvida, certo - só Lidija poderia criar peças que são ao mesmo tempo fitted ou cingidas e que apresentam espaço entre o corpo vestido e a peça - aquilo a que os japoneses chamam ma.

Carlos Gil - “Urban Flow”
“As linhas fluidas e curvas ousadas evocam a velocidade e movimento das ruas, como também o grafiti que transforma o espaço urbano numa tela, símbolo de liberdade criativa e individualidade em constante transformação.”
(Via website ModaLisboa)
Carlos Gil já nos tem habituado a apresentações ao vivo. Ainda que geralmente, se trate do música ao vivo, desta feita à música ao vivo - à abertura com a actuação de Syro - juntou-se o grafite.
Uma coleção que se vai desenvolvendo ao ritmo da criação das colunas grafitadas.
Carlos Gil traz-nos o movimento, o manifesto e a liberdade da Moda. Fazendo.nos ainda questionar a velha questão da Moda ser cíclica… Seja essa ou não a intenção do designer podemos identificar diversos detalhes que nos remetem para momentos da História da própria Moda.
Desde referências aos roaring ‘20s a referências - não só de tipologia de peça, mas de um todo em termos narrativos - à Gucci de Tom Ford. Tocando a vibe no Le Smocking dos anos 70, popularizado por Yves Saint Laurent.
Numa coleção extensa de mais de 40 looks, Gil abraça o street style e a cidade, de dia para noite - para o quotidiano ou para ocasiões especiais - tanto em proposta para o corpo feminino como masculino.
Mais uma vez o designer apresenta um estampado central à coleção, desta feita as ondas do movimento citadino de “Urban Flow” fazem-se em diferentes que integram off white, preto, fuschia, laranja, azul claro, amarelo ácido…
Ao longo do dia a sala de desfiles foi enchendo, o entra e sai pode ter-me cansado ligeiramente, mas tanto na primeira fila - no desfile Workstation, ou na terceira fila no desfile de Gonçalo, ou ainda na segunda na apresentação de Kolovrat, mesmo atrás de Ana Salazar, toda eu era estamina e contagiante adrenalina.
E como não há melhor call to action que o Natal…
Feliz Natal!
Até para a semana!
Sim, ainda nos voltaremos a encontrar antes do final do ano… Com uma colaboração muito entusiasmante e, já em no Novo Ano concluiremos esta série de ensaios sobre a ModaLisboa Base.
Com todo o amor,
Vera Lúcia


