BoF Voices: Em que se tornará a Moda na era da auto-publicação independente

A dez dias do Natal, voltamos à calendarização de Domingo. Portanto, apesar da quadra festiva, já sabes que ao Domingo tens de guardar um tempinho para The Fashion Standup…
Tal como no ensaio do Voices 2024 “BoF Voices: Moda e prazer para o cérebro” , não vos vou contar cada detalhe. Para isso verias toda a programação ou lerias todos os reports oficiais, certo?
Antes de te explicar a metodologia deste ensaio, devo dizer que não há nenhuma parceria ou patrocínio do The Business of Fashion a esta edição da newsletter.
The Fashion Standup assenta nativamente no modelo económico e cultural do Substack, portanto o lucro do TFS advém da tua subscrição mensal, anual ou founding.
E, na possibilidade de existirem sponsors neste espaço, tal acontecerá pela hipotética expansão do programa piloto Substack Sponsorship.

Numas quantas linhas…
Podia tentar resumir-te o que aconteceu, mas o que realmente importa é despertar-te curiosidade. E o que é verdadeiramente interessante no que Imran Ahmed, fundador do BoF, chama de encontro anual de Moda para grandes pensadores, é o facto de transcender a própria Moda.
Uma vez que quando se trabalha em Moda, o foco e o tempo esfumam-se tal forma que precisamos de assistir a talks sobre Moda para dela sair.
Do poder cultural da experiência culinária explicitada no carisma de Rahel Stephanie.
O despir-nos de brilhos para nos confrontarmos com a dor crónica pela mão de Jean Campbell.
Ao som de DJ Coffee Black, sem penas, falou-se deficiência física sem pudores ou eufemismo, num momento em que aparentemente a tendência das políticas de inclusão e deficiência parecem estar a desvanecer-se.

Deeyah Khan e Jeremy Heimans, respectivamente, ensinam-nos como se pode dialogar, até com o ódio e, o que ainda há por fazer nos direitos LGBT+.
E, obviamente, muito se falou de AI - mas Marley Diaz, Gabriel Whaley e Nestler foram contra corrente de forma muito expressiva. Marley deixou claro o poder de mudança que cada um de nós, dentro do nosso raio de ação individual. Gabriel, mestre de momentos virais no universo digital, converte-nos ao poder dos nichos. Laura doutrina-nos no inverso do marketing funnel - o community funnel.
No que à Moda concerne, foi extremamente enriquecedor perceber como, com carreiras tão distintas, Clare Waight Keller e Maria Cornejo sempre implementaram, de forma inata, estratégias feministas, nos respectivos corpos de trabalho e não só.

Rachel Arthur reuniu Javier Goyeneche, Liz Ricketts e Bobby Kolade, para nos dar terapia de choque, a única forma de compreendermos como sociedade o verdadeira extensão do dano do consumismo barato.
E, ainda que existam várias teorias sobre o estado actual da economia não deixou de ser surpreendente e um pouco indutor de ansiedade perceber que os ultra ricos preferem apostar em joalharia face aos demais artigos do mercado do Luxo, uma vez que das jóias é mais fácil perceber a valorização futura… Da mesma forma que, ainda que com humor, o facto de Imran Ahmed confrontar o CEO do grupo Prada sobre a subida dos preços das marcas, que já suscitam debate, apanhou a muitos de surpresa.
Agora vamos divergir um pouco, se já acompanhas os meus devaneios escritos, há algum tempo saberás que relatos não são propriamente o meu forte… misturo sempre muitos pensamentos, opiniões e perspectivas, mais ou menos inacabados…
Nos dois subcapítulos que se seguem iremos dissertar/ “espiralar” sobre as talks que, coincidentemente , aconteceram durante a Sessão 2: The Fashion. “Twenty Years of Influence Economy in Fashion” e “Beyond Fashion Manifesto”, respectivamente.

O passado recente e o futuro do new media
Estando eu na minha era Fashion Substacker, é um bocado óbvio que o painel pelo qual mais ansiava era “Twenty Years of the Influence Economy in Fashion”, tendo como oradores The Gstaad Guy, Bryan Yambao e Camille Charrière com a moderação de Susanna Lou aka Susie Bubble…
A minha expectativa não foi correspondida, um pouco por má interpretação minha porque esperava algo mais direccionado à content creation.
Ou seja, quando se fala de influencer’s economy fale de um modelo B2B (Business to Business), o influencer oferece algo ao consumidor, mas quando obtém lucro do trabalho desenvolve este advém de marcas. Já no caso dos creators, o lucro advém de quem consome, ainda que possa ser um “negócio” de uma só pessoa enquadra-se em B2C (Business to Consumer).
E, se de facto, celebrei o like de Susanna Lau no meu post, no qual a identifiquei, porque de facto os inputs de Lau fira os que mais me interessaram. Principalmente quando descreve a actividade de bloggers e, que também se aplica a substackers - fazemos auto-publicação regular em Moda.
Durante, o painel trocaram-se ideias que se encontram muito - de se tornarem insiders na Moda. Portanto, honestamente e sem negatividade, gostava que se tivesse olhado e reflectido sobre este futuro para onde caminhamos ou que já é presente. No qual não se precisa de apoio de uma marca para se fashion insider, a grande validação, a existir tem muito mais valor intangível vindo da Moda independente tenha a forma que tiver.
Tal como diz Li Edelkoort a Moda torna-se outsider, quando passamos de uma digitalização em Web 3.0. da Moda, ainda que possa parecer que as newsletter são meros renascimento dos blogs… Não é algo tão linear assim, estamos em plena transição da influencer economy para a creator’s economy.
Os que vão mais para lá de reviews e looks, mas também não os deixam totalmente de lado, os nerds, arquivistas digitais, geeks, estudiosos - que as casas têm mais atributo de bibliotecas e de arquivos temáticos de Moda do que de casa.

Em que se tornará a Moda…
Que Li Edelkoort é das mais incríveis personalidades da nossa área, já não é novidade…O facto de ter dado continuidade ao seu famoso “Anti Fashion Manifesto”, é provável que seja!
Portanto, durante a Sessão 2: “The Fashion System”, já ao final da manhã do segundo dia de BoF Voices 2025, Li apresenta a continuidade do referido manifesto em “Beyond Fashion Manifesto”. Edelkoort dá-nos muito em que pensar, talvez precisemos de mais uma década para compreender a totalidade da mensagem que procurou transmitir.
Mensagem essa que se divide em 15 pontos, sobre a premissa “A Moda torna-se…” (Fashion becomes…). Mencionarei o conteúdo de cada um desses pontos, não para encher a página (ou o ecrã, no caso), nem para provar que trago conteúdo que possa ser considerado - sob algum prisma destinto ou exclusivo.. Mas, sim porque considero que devem estar escritos para nos servir de base para conversarmos, de mandamentos para o pensamento,
E, foi, exatamente, por isso que baralhei e voltei a dar no que toca à ordem dos oradores em cada sessão , de cada um dos três dias… Para poder deixar o melhor para o fim.
Assim, estes são os 15 pontos do novo manifesto de Li Edelkoort:
1 - A Moda torna-se convencional;
2 - A Moda torna-se tradicional;
3 - A Moda torna-se ancestral;
4 - A Moda torna-se mágica;
5 - A Moda torna-se feminina;
6 - A Moda torna-se infantil;
7 - A Moda torna-se prodigio;
8 - A Moda torna-se outsider;
9 - A Moda torna-se animada;
10 - A Moda torna-se focada;
11 - A Moda torna-se colectiva;
12 - A Moda torna-se espiritual;
13- A Moda torna-se iluminada;
14 - A Moda torna-se robótica;
15 - A Moda torna-se arts and crafts.
Qual a tua opinião sobre um ou vários pontos listados? Conheces o contexto dado por Li? Se, sim onde te situas fase ao seu discurso? Caso, todas estas afirmações te fossem até agora desconhecidas, como as interpretas?
Começo eu, presenciar, em tempo real, ainda que não em carne e osso, a leitura/apresentação de um manifesto de Moda de Li Edelkoort foi um dos momentos mais marcantes da minha vida na Moda. (A diferença entre a minha vida na Moda e carreira ficará para outra altura).
Para mim, aqueles que são os pontos mais positivos - praticamente todos, do tradicional e do convencional, já vou vendo ganhar forma, a diferentes ritmos, nos clusters de Moda independentes. Principalmente, naquele com o qual estou familiarizada - o de Lisboa.
Não podendo deixar de ressaltar o facto, de há mais de uma década, uma das minhas melhores amigas e mentora máxima ter afirmado que, efectivamente, o futuro da nossa indústria passava e passa pelos arts & crafts.
Até para a semana!
Com amor,
Vera Lúcia


