55k gate - uma perspectiva (própria e) europeia
O tema desta semana surgiu pra mim de forma similar ao ensaio da semana passada. Mas ultimamente temos tido nestes primeiros parágrafos uma secção a que poderíamos chamar "o que se passa na vida de uma fashion substacker a full time"
Olha esta semana ainda vais a tempo de aproveitar oferta de lançamento do The Fashion Standup premium - 20% desconto na subscrição anual. Sim agora, o The Fashion Standup é premium, uma subscrição paga. Porquê? Porque o tempo e dedicação têm valor, mas a missão também por isso é que não tenho pressa. Não vou fechar esta publicação se não for best seller daqui a seis meses. O que ainda que pareça que estou feliz que estou a fazer um sales pitch, isto está relacionado com o que efetivamente vamos falar hoje.
Mas mas antes das atualizações da vida de uma fashion substacker— como é que uma pessoa consegue reunir um arquivo tão gigantescamente enorme em 15 anos se quando começou só tinha 11? Pois é, estive arrumar o meu escritório… Sim, aquele a dois passos do meu quarto. Mas ao qual só voltei oficialmente na quarta-feira… Como ter férias e fins-de-semana como self-employed/entrepreneur? Se for possível trabalha do sofá.
55k gate
Quando tive conhecimento deste "escândalo" foi ao ler a seguinte manchete no Instagram: "Would you work in Fashion for 55k?" Penso que li isto pelo The Cut e, pensei: Sim!
E se és utilizador do Tik Tok e já me queres cancelar, eu explico… Deixa-me só fazer uma pausa para explicar o mais rapidamente possível o básico do 55k gate para quem não está a par.
Se não usas o Tik Tok, tal como eu não, talvez não faças ideia do que estou a falar. Então 55 mil (k) dólares anuais era o salário oferecido para a posição de Studio coordinator a tempo inteiro no podcast de The Cutting Room Floor. Um cargo junior presencial em Nova Iorque, numa empresa que assenta na modelo de creator economy na plataforma Patreon. No Patreon, tal como aqui no Substack, não publicidade ou parcerias é o dinheiro de cada subscrição que financia a operação e continuidade do projecto.
A designer de Moda Recho Omondi, começou o seu podcast em 2018, enquanto geria a sua marca independente em nome próprio. Com a pandemia disse adeus a essa marca em 2020, dedicou-se na integra ao The Cutting Room Floor que chegaria ao Patreon em 2021.
Em 2024, contratou o primeiro colaborador a tempo inteiro para o seu projecto de media. Este verão iria contratar novamente, mas ao fazer uma publicação sobre estas oportunidades de emprego no Tik Tok, tal foi a tempestade de criticas que Omondi decidiu congelar o processo de contratação.
Perspectiva própria, portuguesa e europeia
Como disse não concordei com as criticas, então decide estudar o porquê da minha posição e tentar perceber de forma empática (ao estilo da personagem de Audrey Hepburn no filme "Funny Face") as criticas negativas.
Sim, percebi que $55k anuais é ligeiramente abaixo do que seria o salário medio numa posição júnior em Moda nos EUA, especialmente em Nova Iorque. Lembremo-nos que quando Anna Wintour procurava uma assistente em 2023, ainda que o salário anual pudesse ir até aos $80k anuais, o intervalo a ser negociado começava nos $60k.
Não sou a Lauren Weisberger, eu sou fã de Anna Wintour, por muito incoerente que seja, uma vez que eu não sou nada fã do universo corporate e totalmente pró negócios, projectos e marcas independentes. Isto para dizer que a Condé Nast podia ter em termos de intervalo salarial um valor inicial bem mais elevado.
Agora em termos de reality-check com Portugal. Ainda que o salário seja baixo para o custo de vida de Nova Iorque, se a pergunta é colocada por meios como o The Cut, com audiência global é claro que desencadeará reações diversas.
Sim, poderia não sobrar muito dinheiro depois de despesas pagas… Mas sobraria para alguns outros gastos, enquanto em Portugal os gen Z que conseguem sustentar-se sem ajuda dos pais ou sair de casa é uma minoria mesmo pequena.
Não quero com isto dizer que temos de resignar e que não deve haver mudanças sistemáticas para a construção de uma vida estruturada para a nova geração. E ainda assim não consigo equacionar o fardo que é viver sem um Serviço Nacional de Saúde público e universal, por muito imperfeito que seja.
Defendo e penso que é saudável considerarmos diferentes perspectivas. Assim como considero na minha forma de estar e face ao modo como o mundo e a nossa indústria se direccionam penso que o valor intangível que o nosso contributo em cada projecto pode ter. Numa organização independente e pequena, cada ação individual tem uma proporção e repercussões maiores.
Identificar-me e reflectir
Graças a todo este escândalo pude descobrir mais sobre Omondi e sobre o seu trabalho. E como quem não goste de uma boa lista, aqui ficam duas.

Identifiquei-me com…
…a sua honestidade sobre como é difícil e entusiasmante integrar a creator's economy. Mas ao mesmo o seu exemplo dá-me que a Moda aliada à creator's economy pode ser uma receita de sucesso, sendo que cada receita é diferente.
…o admitir sem rodeios que é uma pessoa caseira, gosta de estar em casa e, que na verdade quando se trabalha em auto-emprego está-se muito tempo em casa e pode ser solitário. Muitas vezes, creators parece que estão sempre on the go, sempre fora de casa…
…o facto de que apesar já não ter a sua marca própria como designer de Moda, continua a identificar-se como designer de Moda, sendo a sua formação. Algo que subscrevo na integra, adoptei a denominação Fashion Substacker with MA in fashion design para tentar facilitar… Nem sempre resulta. Mas neste contexto, uma perspectiva de Recho partilhada numa entrevista foi um verdadeiro haha moment para mim. A formação em Moda dá-nos inadvertidamente competências aplicáveis à crescente creator's economy.
Reflecti sobre…
… as comunidades digitais. Recho acredita que o trabalho in loco e os eventos são vitais à criação de comunidade. Eu não tenho a experiência do Patreon. Mas como sabem para mim o Substack é uma comunidade, uma cidade idílica de um filme de Natal e um espaço de coworking muito fixe.
… a postura assertiva e com esta pode ser interpretada. Quando ouvi Recho a descrever a sua ética de trabalho ou o facto de nunca ter conhecido alguém que faça uma pesquisa mais exaustiva que a própria. É claro que o meu primeiro instinto foi julgar negativa. Mas num segundo momento pensei: sem falsa modéstia eu não agiria assim, não pensaria o mesmo de mim mesma? A resposta voltou a ser: Sim!
… os timings de se ser adulto de pleno direito. Omondi está num bom momento da sua carreira, não acredito que isto vá ter verdadeiras consequências negativas, mas tem 38 anos. Por que é que nós, gen Z, sempre acreditamos que o climax biográfico se dá na casa dos 20 anos? Os 20s serão os novos teens?
Este assunto deixou-me bastante pensativa também noutras camadas de sentido…
Teria existido esta polémica se quem tivesse fundado o The Cutting Floor Room e tivesse abordado esta proposta de trabalho fosse um homem branco entre os 60 e os 80 anos?
Talvez esta polémica tenha adiado a perspectiva já abstracta e longínqua de vir a ter colaboradores no The Fashion Standup. Receber mensagem de pessoas a dizer que gostavam de trabalhar comigo e no TFS é o sentimento/ emoção mais polarizada do mundo. Por um lado é o maior elogio que posso receber, por outro é triste ter de dizer que o The Fashion Standup ainda não cresceu a esse ponto.
Qual é a tua perspectiva em relação ao 55k gate?
Já agora gostaria de ter o The Fashion Standup também em edição podcast? Fico à espera dos teus comentários, adoro emojis portanto não tens de escrever para comentar…
Até para a semana!
Com amor,
Vera Lúcia