Nuvens de entretela e um frigorífico em cuecas

Nesta edição da newsletter de The Fashion Standup temos um formato muito diferente — ficção.
Já sei que estás a pensar onde bati com a cabeça, pois se me dedico à investigação e estudos de Moda, ter a mirabolante ideia de escrever ficção parece estranho. Eu explico! No Design e na Moda, livros e "bíblias" são sempre necessários — são companheiros de viagem.
O livro que me tem acompanhado, ultimamente, é um manual de escrita de Moda — "Writing for the Fashion Business" (2023) da autoria de Kristen K. Swanson, Judith C. Everett e Jenny B Davis. Para além dos conselhos e aprendizagens relativos à prática da escrita no contexto de Moda — que vão desde o jornalismo à escrita académica, passando pela escrita como meio de promoção, comunicação, marketing, criação de conteúdo e até ficção.
Além das infografias sobre gramática e formatação de documentos, são vários os exercícios e questões sugeridas. Todas tão interessantes, pertinentes e diversas que adorava partilhá-las todas convosco e debatermos e conversarmos ininterruptamente. Talvez seja este o início de uma nova série de artigos. O que achas?
Desta vez, no primeiro artigo desta hipotética série, a que poderíamos chamar Fashion Homework, optei por este desafio:
"Tens uma óptima ideia para um romance sobre uma estudante talentosa e cheia de estilo, que quer entrar na indústria da Moda. Escreve uma sinopse do enredo com 300 a 500 palavras. Identifica o/a protagonista e o/a antagonista. Qual será o clímax da história? Dá um título a este romance e inclui resultados da tua pesquisa relativamente se o título que propões já foi usado num livro publicado".*

Como já abordámos, o contexto da indústria da Moda é cada vez mais amplo. A independência expande-se a cada dia e o sucesso redefine-se ao minuto.
É claro que vi "O Diabo veste Prada", mas neste contexto é uma referência à qual queria fugir. Optei por ter mais presentes, ainda que vagamente, as minhas grandes referências de ficção no universo da Moda. Tanto televisivas com séries como Velvet, Kathy Keene (inspirada na personagem de banda desenhada) e Jane by Design; como literárias com o livro "O tempo entre Costuras" e a sequela "Sira" da autoria de Maria Dueñas, a que se junta a adaptação televisiva do primeiro livro. E ainda, mais marcante, a coleção de livros infanto-juvenis "As Rosas Inglesas" de Madonna, com Amy Luella Brook, a pequena e carismática aspirante a designer de Moda.
O facto de me querer afastar da trama focada em Andy Sachs deve-se não só pelo seu conteúdo, mas pelo facto de não ser uma ficção pura. Daí que não tenha referido filmes e séries que talvez tenham vindo à cabeça como "Linha Fantasma" e "The New Look".
Nesta história, optei por não ter uma antagonista "externa", uma vez que todos nos podemos identificar com o facto de ter um "antagonista interno", muito mais do que um arqui-inimigo de conto de fadas.
Inspirei-me em quem me rodeia e em algumas ideias de mim mesma.
O nome é inspirado no meu; apresento-vos a Viveca:

Viveca, apesar dos seus 28 anos, terminou há pouco tempo a faculdade. Sempre teve demasiadas ideias na cabeça para se conseguir focar num único objectivo… Mas desta vez conseguiu . Terminara a licenciatura em História e Teoria da Moda. Estudou várias áreas da Moda pelo caminho, já que sempre acreditou que a Moda tinha potencial para mudar o Mundo ou o mundo de alguém.
Enquanto ajudava a sua amiga Margot a gerir a sua loja vintage, planeava como ia pôr as suas ambições em prática. Talvez ambições não fosse a palavra certa… Como ia criar uma factory de Moda - um espaço que fosse estúdio para designers independentes, uma biblioteca especializada na área, um espaço de pensamentos e ideias?… Espaço esse que produzisse uma revista bianual e que tivesse uma loja permanente? Não era só o facto de tudo isto ser megalómano, mas conjugar com as todas suas imparáveis ideias.
Era de facto a maior e única antagonista de si própria, o seu pequeno apartamento era um casulo, onde absorvia todos os quadrantes da Moda. Se adorava as cenas emergentes com novos designers, criadores e pensadores, tinha um fraquinho enorme pela Vogue.
Como conciliava tudo isto? Na maior parte dos dias não conciliava. Podia passear pela cidade em dias de calor, tinha devoção por cada peça do seu guarda-roupa, podia usá-las - talvez só para comprar algo na mercearia de esquina. Tinha comprado o frigorífico que mais gostava esteticamente, mas pouco o usava. Conseguia passar todo o dia a investigar o interior de uma peça de roupa, cada costura, cada entretela…
O que vestia Viveca nesses dias? Uma t-shirt extremamente oversized e umas cuecas, igualmente, enormes. E os seus óculos de bloqueio de luz azul - a sua mais recente extravagância, que ajudavam a que se concentrasse.
Até que um dia despertou e a sua opção era outra - transformar as ideias em planos e pô-los em prática. Para lá de todas as suas quase utopias também ia visitar os maiores museus e arquivos do mundo
Estava decidido, ía fazer a sua factory, para a financiar esse projecto ia trabalhar e ao mesmo tempo viajar - ia visitar as clássicas fashion four e ainda tinha na sua lista mental Lisboa, Madrid, Copenhaga e Oslo. A ideia seria trabalhar, ser uma esponja de zeitgeist, fazer networking e repetir. Pelo caminho e com sorte encontrar investimento para o seu projecto.

Queria começar por Londres, mas ainda que conseguisse um bilhete de avião, o seu “eu” sabia que não podia só ir. Então veio uma lista caótica e em papel: trabalhar com a Margot; arranjar um segundo part time (tem de ser interessante!); fazer um plano para a minha factory (um plano a sério com pesquisa e desenhos e tudo!); saber o que é e como se arranjam investidores; comprar um fogão, parece que um frigorífico e microondas não chegam para cozinhar tudo…
Será que vai a nossa heroína vai conseguir ter persistência para concretizar tudo o que vê nas nuvens que pairam na sua cabeça?
O universo de Viveca espera pela a tua curiosidade! Queres mais desafios sobre escrita de Moda? Um comentário teu é o . Esta nova Fashion Homework está a apenas um clique de distância!
Até breve!
Com amor,
Vera
P.S.: Estamos a construir um espaço criativo no Instagram tal como a factory de Viveca! Segue @TheFashionStandup e junta-te a esta comunidade.
*tradução livre