Life is Fashion Week (PT)

Life is Fashion Week (PT)
Colagem e créditos da imagem: autora. “Eduarda Abbondanza durante as ”Fast Talks”, ModaLisboa Capital.”

A Semana de Moda é mesmo pura vida, pulsar, energia, adrenalina… Esta é a experiência que tenho tido nos últimos 14 anos na Lisboa Fashion Week. E antes de contar tudo o que aconteceu entre os dias 6 e 9 de Março,  durante a  ModaLisboa Capital, vamos falar de algo que pouco se fala… Em comparação com os desfiles e eventos na agenda de cada edição - os intervalos.

Não me estou só a referir à hora ou hora e meia que separa cada desfile que acontecem no mesmo dia, mas de todo o tempo que não seja passada num evento… Porque, na verdade, o final do último desfile da noite e o inicio do primeiro desfile do dia seguinte são separados por apenas 15 horas.

Portanto a vida, o quotidiano passa a girar em torno do fuso horário da Moda. Durante quatro dias, 3 dias de desfiles mais precisamente, nunca faltam 20 minutos para às 5 horas da tarde. Faltam 20 minutos para o desfile de Constança Entrudo, Luís Onofre ou de Arndes…

Colagem e créditos da imagem: autora. “Ambiente da sala de desfiles antes do desfile de Luís Carvalho, ModaLisboa Capital”. “Margarida na sala de desfiles, ModaLisboa Capital”.

Continuando a falar de números… Já te questionaste quais são os números que caracterizam uma semana de Moda? A Lisboa Fashion Week responde no seu Instagram: 

“4 dias, 12800 visitantes, 28 Designers de Moda, 9 marcas de calçado e acessórios em pele, 5 conversas, 1 workshop, 1 documentário e 1 pop-up store; 4 420 781 visualizações, com 1 197 353 de alcance nas redes sociais (até agora) e 153 979 visualizações, no site da ModaLisboa e nos mupis”

Nesta edição, tal como é habitual, a ModaLisboa teve lugar no segundo fim-de-semana de Março. Evento que se seguia  no fashion month(s) à Paris Fashion Week, com um dia de “intervalo” (a PFW terminava à terça-feira e a MLX - LFW começava à quinta-feira). A “Le Grand Gala do Louvre”, apelidada de versão parisiense da Met Gala, transportou o calendário de Moda desta capital totalmente para Março (de 3 a 11 de Março). 

Regressando à engrenagem numérica, sei que estar presente em 4 dias de Semana de Moda é entusiasmante, pulsante, repleto de adrenalina, inspiração e diversão. Dormir uma quantidade de horas saudável, preparar o teu “look” dos pés à cabeça, entretanto tomas o pequeno almoço e almoças; vais a eventos durante a tarde e a noite. E recomeças, feliz da vida…

Questiono-me, seriamente, como é possível multiplicar isto por 9 dias, com horários que vão das 9 e meia da manhã às 8 da noite, com viagens e outros eventos pelo meio. Não digo que não gostasse de assistir  a desfiles ou eventos inseridos na Semana de Moda de Paris. Mas com ritmos como este, é normal que a conversa sobre a Saúde Mental, ou falta dela,  no seio do Sistema internacional da Moda, seja crescente. 

Colagem e créditos da imagem: autora. “Ambiente exterior à sala de desfiles.” “Victória”.

Não que me considere perto, sequer, de ser “opinion leader”, mas é possível ter um overdose de Moda e, isso irá tirar-lhe a magia. Decrescendo, paulatinamente, a importância das tais “fashion four”. Antes de regressarmos à capital portuguesa, deixem-me confessar mais uma coisa - eu não gosto daqueles pavilhões brancos que marcam a entrada dos desfiles das marcas de luxo e afins. 

Viés à parte, é tão mais interessante estar atrás de uma baia num local que combine arquitectura histórica e a abrangência da arquictetura efémera, em  diversos espaços lisboetas no geral e, no Pátio da Galé em particular. 

E o tempo entre desfiles pode ser preenchido de tantas formas. Olhar e ver as activações das marcas patrocinadoras da semana de Moda: Audi; L’oréal Profissional; Seaside; Renova; Asus; Bioderma; Monchique; Mateus Rosé e Locke de Santa Joana. Fazer networking com diversos players da área nos corredores, como por exemplo: Sara Sozzani Maino; simpáticas voluntários (não mencionar nomes aqui, porque não quero excluir ninguém, “o rapaz que desenhava durante os desfiles”… Admirar a instalação “I dress, therefore I exist” da autoria de SELF, refletindo sobre a fast-fashion. Inspirar-nos pelo design da receção que lembram estiradores ou incubadoras criativas. 

Uma das coisas que mais valorizo nesta rotina de “fashion week”, é ter tempo para também estar comigo própria, preparar-me, maquilhar-me, vestir-me… Ponderar como me vou apresentar ao mundo, como me vou expressar através da Moda, com total intencionalidade e plena consciência. Isto é tudo menos fútil.

Colagem e créditos da imagem: autora. “Ambiente da sala de desfiles antes do desfile de Valentim Quaresma, ModaLisboa Capital”. 

Pelo caminho mudamos o ditado, os cães são os melhores amigos dos fashion insiders, com os mimos do Jaime e da Gaia.

O que se segue? Nos próximos dois artigos vamos falar dos eventos dos referidos quatro dias. E qual foi o itinerário que vamos decalcar , de certo modo? (Sendo que não assisti à totalidade dos eventos e desfiles, abordarei apenas perspectivas sobre aquilo a que assisti). 

A edição Capital da ModaLisboa teve a sua abertura no habitual ciclo de conferências Fast Talks - nesta 64ª edição da MLX, foram compostas por duas “talks” - “Cultural Capital - An industry under the influence” e “Social Capital - Design as a catalyst for change (Design Activism/ Social Justice/  The Social Fabric)”. 

Colagem e créditos da imagem: autora. “Instalação Moda Portugal na Praça do Comércio, ModaLisboa Capital” . “Instalação ”“I dress, therefore I exist” da autoria de SELF”.

Ambas com moderação de Rui Maria Pêgo, o Capital  Cultural foi discutido por Antonio Letteri (Cabanamad), Mira Wanderlust (33 Magazine) e Umberto Sannino (IED Milano). A Matteo Ward (WRAD) e a Paulo Gomes (Manifesto Moda) coube o debate sobre o Capital Social. O trabalho de Ward encerraria este dia, com o visionamento de dois episódios da série documental “Junk” - com foco no Gana e no Bangladesh, respectivamente.

Sexta-feira foi o dia de transição entre as conversas e o diálogo e a apresentação de desfiles, a nós compete-nos falar sobre os dois primeiros “Diálogos” - Diogo Mestre com Adriana Progonó  e Marta Gonçalves com João Pedro Vale e Alexandre Ferreira. Assim como do desfile da segunda fase do concurso de jovens designers Sangue Novo, do desfile da plataforma workstation da apresentação das colecções de Mestre Studio e Inês Barreto. Ao fim da noite regressou a marca Alves/ Gonçalves à casa mãe pela mão de José Manuel Gonçalves. 

O fim-de-semana foi uma verdadeira maratona electrizante e inebriante, faltei a dois desfiles e uma apresentação, afinal tenho uma família  de foodies, tentei que o puro prazer estético da Moda independente servisse de jantar, mas para o meu pai, o almoço e o jantar são momentos sagrados, então não deu. Portanto, este foi o meu itinerário: Carlos Gil; IED Graduate Fashion Week; Luís Onofre; Kolovrat; Ricardo Andrez; Luís Carvalho; Nuno Baltazar, Bárbara Atanásio; ARNDES; Valentim Quaresma; DuarteHajime e Dino Alves.

Este é só o primeiro de uma série de artigos no âmbito da ModaLisboa Capital. Alguns serão seguidos, outros serão surpresa; uns podem versar sob uma perspectiva puramente pessoal e da minha experiência ou com base em estudo e investigação… E, ainda, ficarmos a conhecer como a MLX é catalisador criativo, de formas diversas e em casos particulares.

Colagem e créditos da imagem: autora. “Margarida.”

Contudo, aqui e agora, a partilha que faço contigo é resultado do que vivi e experienciei. Muito se interpretou o tema Capital, para mim, a ModaLisboa reiterou que Lisboa é uma verdadeira Capital de legítimo direito com base na resiliência, liberdade e independência desta LFW.

Para a semana, não daqui a uma semana, vamos rever a matéria no MUDE, começamos a passar a palavra o que pisou a passerelle do Pátio Galé e ainda teremos para visitar o CAM da Fundação Calouste Gulbenkian.

Fico à tua espera, combinado? 

Com amor,

Vera Lúcia